Em tempos remotos deram-me o nome de Venulla. Sou um veio de água que corre pela terra – terra esta que até muito recentemente sulcava e moldava ao sabor das minhas vontades. Desde tempos imemoriais, as mais diversas criaturas visitam e habitam as minhas águas. Ao longo do tempo a minha aparência mudou e voltou a mudar, por vezes forte, cheio de água, com correntes perigosas, noutras apenas um fluir escasso, um pequeno fio de água.
Até que o Homem chegou, e com ele Irene. Irene deslumbrou-me – inteligente, inventiva, ágil, uma verdadeira força da natureza, embora colocando-se sempre se à parte desta.
As minhas águas e as minhas fortes correntes fascinaram Irene, e nas mãos dela tornei-me mais e mais – sou a água que rega os campos, sou a água que mata a sede de todos em qualquer lugar, sou a água que move moinhos, sou a água que brinca e diverte. Mas pelas mãos de Irene tornei-me também a água mortífera da poluição, a água que não deixa os peixes chegarem ao mar, a água que já não transporta até às praias os seus areais, a água que deixou de correr livre e forte.
O planeta está em risco, num cenário de emergência climática põe-se em causa a sobrevivência do Homem e das outras espécies e ecossistemas. E para o salvarmos há que agir. As minhas águas, as minhas margens, os bichos e sedimentos que me habitam e as minhas correntezas têm o poder de refrear os fenómenos de cheias e de secas, a erosão costeira e o declínio da biodiversidade de água doce. E Irene tem o poder de chamar a sociedade humana a agir, a remediar, a reabilitar, a conservar. Ao ver a nossa vida a esvair-se, eu e Irene finalmente compreendemos que viver em comunhão é reforçar e não refrear quem amamos.
E agora, apoiados pela equipa Rios Livres GEOTA, procuramos pessoas com um brilho nos olhos, que acreditem na ação climática, que lutem por um futuro mais sustentável, em que se preservam os ecossistemas e a biodiversidade, e em que se assegura o bem-estar humano.
Tem esse brilho nos olhos? Seja um protagonista nos próximos capítulos desta história, ajudando-nos, através do projeto Rollin’Rivers, a:
– Comunicar e impulsionar o conhecimento sobre os rios às populações e aos decisores, na perspetiva de que só se protege o que se ama, e só se ama o que se conhece.
– Agir integradamente através de parcerias com organismos governamentais, organizações da sociedade civil, universidades, media e agentes culturais empenhados em proteger os nossos rios;
– Conhecer os obstáculos à conectividade fluvial e determinar prioridades de ações de reabilitação, usando como sítio piloto o Rio Alviela;
– Proceder à reabilitação de troços de rio, aplicando práticas de engenharia natural de modo a permitir a conectividade fluvial e a atenuar o declínio da biodiversidade e a expansão de espécies exóticas invasoras;
– Implementar a participação pública na reabilitação fluvial.