Construir novas barragens resolve o problema de seca e escassez de água?

by | Nov 21, 2023

O quadro de seca que Portugal tem vindo a atravessar vem confirmar a posição tomada pelo GEOTA nos últimos anos – apostar em alternativas com grande dependência dos recursos hídricos, seja no contexto das barragens hidroelétricas ou de regadio, não só tem impactos ecológicos irreversíveis, como também diminui a capacidade de resiliência aos efeitos das alterações climáticas.

Existem vários motivos que sustentam a oposição à construção de novas barragens. Em primeiro lugar, estas contribuem para a diminuição da biodiversidade e para a destruição dos ecossistemas, o que por sua vez, contribui para os fenómenos de alterações climáticas. Em segundo lugar, construir barragens implica investimentos elevados que não se têm refletido em benefícios sociais e económicos para as populações locais. Por último, mas não menos importante, a construção de barragens promove usos agrícolas do solo fortemente dependentes de elevadas disponibilidades hídricas.

Ao nível estratégico, o GEOTA não considera viável, numa situação de emergência climática, apostar em atividades que necessitam de elevados consumos hídricos. O GEOTA promove a compatibilização da gestão destes recursos com as metas definidas pelas estratégias europeias, como Pacto Ecológico Europeu e a Diretiva Quadro da Água. Estes instrumentos direcionam-nos para a necessidade de promover rios livres de barreiras, formas de agricultura mais sustentáveis e menos dependentes da água, e a preservação e restauro dos ecossistemas e da biodiversidade. Neste momento, em que já enfrentamos fenómenos de seca decorrentes das alterações climáticas, não se justifica investir na construção de barragens.

Pelo contrário, com custos elevados para os ecossistemas, para a biodiversidade e para a manutenção dos recursos hídricos, Portugal hoje em dia aposta fortemente na construção de barragens cujo principal fim é o regadio, promovendo assim a expansão de uma paisagem de monoculturas irrigadas, muitas vezes usando espécies não-adaptadas ao clima e região, o que resulta em consumos cada vez mais excessivos de água. De facto, apesar do setor agrícola consumir mais de 70% da água utilizada em Portugal, o país tem neste momento uma pressão enorme para construção de mais barragens de regadio, concretizada no Programa Nacional de Regadios e no estudo Regadio 2030, que fundamentam e justificam projetos como o Projeto Tejo e a barragem do Pisão. É de ressaltar o projeto da Barragem do Pisão, cuja execução se prevê que seja a mais próxima. Inscrita no PRR e financiada em 120 milhões de euros, esta vai afetar mais de 10 mil hectares incluindo a área de regadio. Esta barragem é um claro exemplo de como o governo não está a seguir o caminho correto para a mitigação da seca.

Soluções eficazes para os problemas da seca e da escassez de água passam necessariamente por reduzir a nossa dependência dos recursos hídricos, não só ao nível de alteração de comportamentos individuais, mas principalmente ao nível da definição de políticas nacionais, fundamentalmente no âmbito da água, da agricultura e da energia, apostando em estratégias que promovam o uso eficiente dos recursos.

O GEOTA defende a aposta em:

  • estratégias que promovam uma agricultura mais sustentável e menos dependente de barragens de regadio
  • programas governamentais sérios que permitam aumentar a eficiência energética e diminuir o gasto de água por parte de barragens hidroelétricas, de onde provém grande parte da eletricidade a nível nacional.

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