Um dia, andava Inês Natureza a deambular pelas lindas paisagens do Alviela, quando sentiu um calafrio percorrer-lhe todo o corpo. Parou, e sem entender aquela, repentina e estranha sensação, escondeu-se, a observar. Simão Rio, na sua imensidão quase intimidante, chorava lágrimas que faziam transbordar as suas margens.
Inês Natureza sentiu um aperto, como quem tem a certeza de que algo não está bem:
– Porque choras? Como podes estar tão triste se és tão importante para todos, tens em ti tanta vida e tanta beleza?
– Sabes, eu era feliz! Fluía pelas montanhas e vales, ia visitar o mar, e no caminho falava com pássaros, peixes, árvores e arbustos. Um dia, apareceu, nas minhas margens, Xavier Pessoa. Começamos a falar, contei-lhe as histórias destas terras, de como as pessoas vinham para junto de mim, utilizavam a minha água para regar, moer, lavar e se divertir.
Falei-lhe da D. Laura, que me dizia que, no seu tempo, muita gente dependia de mim para viver, todos os caminhos e veredas vinham dar a mim e havia abundância de peixes, do Srº Joaquim e dos amigos que vinham cantar e dançar para junto de mim. Ele contava-me que era eu quem impunha o tempo para trabalhar e para descansar, e a água, essa, era tão limpa que era possível beber.
Xavier Pessoa, entre mergulhos, falou-me de um mundo onde as pessoas se preocupavam mais com o dinheiro do que com o seu bem-estar e em como se sentia bem ali, em paz e harmonia com a natureza. Falámos durante horas, dias e anos. Erámos amigos. Xavier Pessoa apresentou-me outros amigos que, durante muito tempo, se deliciaram nas margens das minhas águas. Depois vieram mais e mais. Construíram fábricas, barragens e campos agrícolas intermináveis e eu, fui ficando doente, sujo, mirrado e como vês…triste!
Xavier Pessoa nunca mais me veio ver, nunca mais quis mergulhar e nunca mais passou longas horas sentado nas minhas margens a contar-me as histórias das pessoas, parece mesmo que já não quer saber de mim.
Inês Natureza, desolada com a história que acabava de ouvir, decidiu que tinha de ajudar Simão Rio:
– Acho que te posso ajudar! Conheço, de outras paisagens, um grupo de pessoas – o GEOTA, que há mais de 40 anos me ajuda a cuidar do nosso planeta para que seja um lugar onde as pessoas e a natureza possam viver em harmonia. Sei exatamente com quem falar.
Com um sopro, Inês Natureza enviou mensagem à Catarina, à Lígia e à Regina, a equipa Rios Livres, com uma forte relação e respeito por Inês Natureza, com uma grande vontade de ajudar a construir um mundo melhor, e especialmente, de ajudar os rios a voltarem a fluir e a sorrir. Elas, certamente, saberiam o que fazer. Inês Natureza tinha a certeza de que iriam ajudar Simão Rio.
Depois de receberem a mensagem, Catarina, Lígia e Regina, rapidamente decidiram que tinham de fazer alguma coisa. Foram ter com Simão Rio, senti-lo, percebê-lo…ninguém melhor que elas para entenderem Simão Rio.
– Vamos construir um projeto para te ajudar! Vamos começar por conhecer os teus problemas: onde estão e como são as barreiras que não te deixam ir visitar o mar, e que te impedem de conversar com os teus peixes, para juntos, encontrarmos soluções! – diz Catarina, com tamanha certeza, que Simão Rio, esboçou um sorriso, esperançoso.
– Isso! – acrescenta Lígia com igual entusiasmo – Vamos chamar a população e todos os que precisam e dependem de ti, explicar-lhes como és importante, e como a vida na terra depende de ti. Desta forma, certamente que vamos conseguir recuperar as tuas funções naturais, a tua magia…o teu sorriso!