Estudo: O que nos Ensinou a Serra Serrada?
Só no lado português da Bacia Hidrográfica do Douro existem 57 grandes barragens. Os seus impactes ambientais conhecidos – os que são medidos a curto prazo, ou seja, até agora – são bem conhecidos, e passam pela emissão de gases de efeito estufa, a deterioração da qualidade das águas, a quebra das comunidades de espécies de rio – peixes, mexilhões, anfíbios, lontras, insectos, etc – a interrupção de habitats de espécies terrestres – lobo-ibérico, corso, coelhobravo, etc. – e a retenção das areias nos paredões, que a impedem de chegar ao mar e abastecer as nossas praias constantemente fustigadas pelo mar.
Para compreender, como mitigar todos estes efeitos negativos nas grandes barragens, e desenvolver um conjunto de medidas de minimização de impacte, o Centro de Investigação de Montanha do Instituto Politécnico de Bragança escolheu a Barragem de Serra Serrada, no Parque Natural de Montesinho.
A Serra Serrada está localizada numa zona-chave para a biodiversidade, nesse Parque Natural, numa zona REDE NATURA 2000 e na Reserva da Biosfera Transfronteiriça da Meseta Ibérica da UNESCO. Faz parte do Aproveitamento Hidroeléctrico do Alto Sabor, estando localizada a montante deste rio. Serve abastecimento de consumo de água para a cidade de Bragança, e está construída na ribeira das Andorinhas.
Os impactes que a barragem de Serra Serrada provoca nas massas de água da albufeira e a Jusante são os impactes típicos de uma barreira, mais concretamente a eutrofização das águas, a quebra da conectividade das espécies de rio, a retenção de sedimentos e a degradação da vegetação nas margens e dos habitats circundantes. Esta zona é também fustigada por incêndios que perpetuam a degradação dos habitats e promovem a erosão e o fluxo de nutrientes em excesso e de sedimentos para a albufeira. É também uma zona em que se pratica pesca desportiva e turismo sem qualquer controlo ou vigilância por parte das autoridades do Parque, sendo afetada pelo lixo aí deixado! As flutuações de água nas margens promovem a acumulação de sedimentos e nutrientes na água, o que agrava os fenómenos de eutrofização.
Apesar das variações na gestão das albufeiras, na raiz do problema está a gestão pensada estritamente no seu uso comercial a curto prazo – a manutenção nível das águas para produção eléctrica, irrigação e abastecimento. A falta de conhecimento ambiental, como de dados climatéricos, de fluxo de água, taxas de evaporação, e informação sobre o fundo das albufeiras torna difícil estabelecer a prioridades para agir na mitigação dos impactes e envolver os atores relevantes – os municípios, o Instituto para a Conservação da Natureza e Florestas, a Agência Portuguesa do Ambiente, etc.
Pois o que o Centro de Investigação de Montanha propõe é justamente um conjunto de medidas de mitigação – agora que a informação foi recolhida e o estudo foi feito – para melhorar o estado ecológico e impedir a degradação das águas da albufeira e dos habitats circudantes.
As medidas são várias e são executadas a vários níveis, e por isso tem sido tão difícil definir um conjunto preparado: é necessário, em primeiro lugar, fazer uma gestão integrada das barragens e respectivas albufeiras. A criação de corredores ecológicos, a conservação dos pequenos ribeiros e o controlo do risco de incêndios têm que ser feitos ao nível da rede hidrográfica. Em relação ao uso eficiente da água é preciso requalificar as condutas e os equipamentos e sensibilizar o público para o problema. A nível dos restauros de habitats circundantes, este passa pelo restauro das espécies nativas na paisagem, a criação e manutenção de charcos e zonas húmidas, a manutenção e restauro das galerias de espécies de rio e ajudar na retenção de água nos pequenos charcos. Para contrariar os efeitos da eutrofização mais uma vez é necessário a gestão da vegetação, a plantação de árvores nativas, a recuperação das plantas aquáticas – não confundir com as algas flutuantes – e promover medidas que sensibilizem os proprietários de gado bovino para impedir a acumulação de detritos orgânicos na água. Finalmente, e talvez as medidas mais impactantes, e para mitigar os efeitos de fragmentação das populações, deve estabelecer-se um valor mínimo e máximo de cotas de água segundo critérios ambientais, deve determinar-se um fluxo de água que mantenha os níveis ecológicos a jusante da barragem, restaurar os bosque ribeirinhos e construir, sempre que necessário, passagens artificiais para os peixes de rio.
Sabemos agora que é possível mitigar os efeitos das grandes barragens.
1) Agora que as medidas estão desenvolvidas, serão apresentadas às autoridades de gestão dos recursos hídricos e devem serm implementadas sempre que se elabore um plano de gestão de uma albufeia de uma grande barragem – situada ou não numa área protegida.