Barreiras e as Barragens do Douro
A Bacia Hidrográfica do Douro é a maior bacia da Península Ibérica, e pela sua configuração geomorfológica é das mais biodiversas! Desde um clima árido e mediterrânico, às altas montanhas da sua nascente e no planalto transmontano, à amenidade típica da costa atlântica, muitos são os habitats que o Douro atravessa. Mas que biodiversidade existe nesses habitats? Qual o seu estado de conservação? Qual o suporte que a bacia do Douro ainda consegue dar às cadeias alimentares dos ecossistemas?
Numa bacia extremamente impactada pela construção de barragens e barreiras, faltava um dado essencial: do lado português da bacia não havia nenhum levantamento completo do número de barreiras existentes. As autoridades desconheciam – até antes deste trabalho que agora está feito – quantas barreiras havia, quem eram os titulares, onde estavam localizadas, qual o seu uso, as suas características e, sobretudo, quais os seus impactes.
A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro aceitou o desafio e foi preencher esse enorme vazio de conhecimento – lançou-se no mapeamento e caracterização de todas as barreiras do Douro, e em identificar as mais danosas.
O primeiro passo da UTAD era identificar e mapear a totalidades das barreiras da bacia do Douro, e isso foi feito com este trabalho, pela primeira vez. Ao todo foram contabilizadas 1201 barreiras nas 30 sub-bacias do Douro, das quais 57 são barragens, 40 são mini-hídricas, e 1105 são médias e pequenas barreiras e açudes, que têm também impactes na biodiversidade.
Os rios mais impactados são o Tâmega – afetado pela atual construção de três barragens do Programa Nacional Barragens – o Tua, o Coa, o Sabor e o Paiva.
O estudo estima que cerca de 25% destas barreiras estejam abandonadas.
A UTAD assumiu também o desafio de desenvolver um modelo multi-critério para a priorização da remoção sistemática de barreiras. O modelo considera critérios de habitat, conectividade, qualidade da água, socioeconómicos e ecológicos.
O modelo foi aplicado às 1201 barreiras inventariadas, extraindo 165 como candidatas a remoção, e criou-se um ranking das 20 mais prioritárias para serem removidas, que estão situadas nos rios Arda, Tâmega, Tua, Coa e na Ribeira de Teja. Destas, 18 não têm uso definido e podem considerar-se obsoletas ou abandonadas.
Pela primeira vez temos um inventário exaustivo das barragens e barreiras da parte portuguesa da bacia do Douro, desenvolvemos um modelo compreensivo e eficaz para determinar quais as barreiras que podemos remover, de forma a restaurar os habitats do território, com benefícios potencialmente imediatos para os ecossistemas, a qualidade da água e as populações.
1) Podemos então entregar este modelo às autoridades para que seja utilizado de forma sistemática no trabalho contínuo de restauro dos ecossistemas da bacia do Douro.