Biodiversidade na Bacia do Rio Douro
A Bacia Hidrográfica do Douro é a maior bacia da Península Ibérica, e pela sua configuração geomorfológica é das mais biodiversas! Desde um clima árido e mediterrânico, às altas montanhas da sua nascente e no planalto transmontano, à amenidade típica da costa atlântica, muitos são os habitats que o Douro atravessa. Mas que biodiversidade existe nesses habitats. Qual o seu estado de conservação? Qual o suporte que a bacia do Douro ainda consegue dar às cadeias alimentares dos ecossistemas?
Numa bacia extremamente impactada pela construção de bem mais de um milhar de barragens e barreiras do lado espanhol (um número que hoje está melhor finalmente mais próximo do valor real devido a um trabalho continuado da Rede Douro Vivo) a caracterização do estado ecológico dos habitats do Douro estava por fazer. Não conhecíamos o estado dos habitats das linhas de água da bacia do Douro. Isso mudou, e agora conhecemos o Douro um pouco melhor.
O Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), propôs-se a descobrir os nichos de resistência da biodiversidade – nativa, endémica, e até mesmo na descoberta de espécies novas para a ciência – ma bacia do Douro, tanto em Portugal como em Espanha. Quando há tudo por saber é necessário amostrar em larga escala, e foi o que o CIBIO fez. Ao longo de dois anos a equipa recolheu amostras em mais de 175 locais em toda a bacia do Douro. Foram recolhidos exemplares de peixes, moluscos e grandes insectos para fazer um retrato ecológico dos vários habitats. Foram também recolhidas e analisadas amostras de água para determinar o índice de qualidade das linhas de água e o grau de impacte das actividades humanas. Foi criada uma cartografia para se poder fazer um retrato ecológico da bacia.
Terminados os estudos e analisados resultados, ficamos a saber que:
Os melhores habitats de espécies de peixes nativas estão em Portugal, sobretudo na margem Norte do Douro, nos territórios das cabeceiras dos rios, menos impactados por barragens e outros impactes da actividade humana.
As espécies de peixes ameaçadas de extinção ainda encontram refúgio nestes santuários de biodiversidade sobretudo no lado português da bacia do Douro.
A maioria das espécies de peixes invasoras – que se aproveitam das condições criadas pelas albufeiras para exercer a vantagem competitiva em relação às espécies nativas do território – se concentram sobretudo no troço principal do rio, onde há mais grandes barragens construídas.
Que os grandes insectos, que são excelentes indicadores da qualidade dos habitats e que constituem a base das cadeias alimentares dos ecossistemas, ainda ocupam com grande diversidade as linhas de água nos pontos mais altos da bacia e mais uma vez sobretudo do lado português.
Os índices de qualidade de habitat mais altos estão concentrados em Portugal. A biodiversidade tem sofrido um forte declínio ao longo de toda a bacia sobretudo por fenómenos de quebra de conectividade, eutrofização e presença de espécies invasoras, mas nas bacias do Tua, Coa, Arda e Paiva ainda existem santuários de biodiversidade.
Das recolhas feitas no território do Parque Natural de Montesinho, uma descoberta fantástica se revelou: o Parque Natural de Montesinho tem um potencial de conservação que está ainda por ser aproveitado! Mesmo não tendo sido pensado na altura para a preservação de espécies de rio, a protecção que confere nas montanhas faz-se sentir rio abaixo, nas populações mais sensíveis como são o mexilhão-se-água-doce e os grandes insectos. O que se torna claro com este estudo é que uma extensão para sul dos limites do Parque Natural de Montesinho traria efeitos muito significativos nas conservação das espécies de rio, sobretudo nos rios Mente e Rabaçal, que trariam efeitos positivos para todo o ecossistema de parque e nas linhas de água para baixo, possivelmente até ao próprio Douro.
O que se impõe agora, conhecendo os resultados, é compreender que Portugal detém, de facto, os santuários de biodiversidade das espécies nativas – e algumas endémicas – da bacia do Douro, que é urgente tomar medidas para proteger estes habitats que ainda resistem à perturbação humana. Inclusivamente os juristas da Univ- Coimbra que são membros da Rede Douro Vivo defendem que a criação destas reservas não só está de acordo com a Lei, como pode ser encarada como um dever perante as leis europeias – neste caso, a Directiva Quadro da Água.
Mais, perante o potencial de conservação do Parque Natural de Montesinho, os estudos do CIBIO sugerem um alargamento para sul dos limites do Parque, no sentido de fortalecer os ecossistemas, com efeitos significativos e potencialmente duradouros a jusante, tal como em todo o ecossistema.
As propostas que se retiram dos resultados são então as seguintes:
1) É urgente a criação de Reservas Naturais Fluviais com estatuto jurídico de Protecção
Permanente.
2) Propõe-se a consideração do alargamento do Parque Natural de Montesinho para
sul, conforme critérios de preservação de habitats ribeirinhos.